Ciclismo no Vietnam – Xe Đạp

por

Vietnam

2018-09-26

Em julho de 2012, adquiri uma bicicleta por cerca de 165 reais. Sendo o tipo mais comum por aqui, é simples mas  equipada: possui para lamas, uma lanterna a dínamo, 2 freios sendo o traseiro a disco, além de sextinha, bagageiro e apoio de pés para um segundo passageiro. Porém, sua leve estrutura é frágil de mais, se comparada ao ritmo brasileiro. Possuo experiência como ciclista a 5 anos, tendo utilizado a bicicleta como meu meio de transporte diário, na cidade de Curitiba.

Confesso que andar de bicicleta nas ruas de Saigon não foi tarefa fácil nos primeiros dias, em um simples cruzeiro a sensação de que ia morrer era constante. Mesmo para um ciclista veterano de Curitiba, não seria fácil. Para entendermos como funciona o ciclismo urbano aqui, explicarei um pouco sobre o trânsito.

O trânsito

A começar pelo pedestre, o estrangeiro que vai atravessar a rua pela primeira vez tem a sensação de cometer suicídio, não há muitos sinais de transito aqui, o que torna uma brecha no fluxo quase impossível. Ao se dar o primeiro passo, o pedestre ocidental deve esquecer sua experiência, e confiar sua travessia aos motoristas que desviarão automaticamente. A maior parte do transito pertence á motocicletas de pequeno porte, sendo uma grande minoria destinada a ônibus e carros. Os poucos que vemos são Taxis ou carros de luxo, tais como BMWs, Toyotas etc… Estes ocupam o topo da hierarquia, e podem espantar o enxame de motocicletas a hora que bem desejarem. Buzinar para alguém é algo muito comum, quase uma sinalização, enquanto no Brasil pode soar como um comportamento agressivo ou uma reclamação. A faixa da esquerda é em geral destinada aos carros e ônibus. Poucos são os caminhões pelas ruas de Saigon.

Atravessando uma rua em Saigon

Motocicletas

A motocicleta é um ícone da cultura do Vietnam, está presente em todo o cotidiano. O povo é exposto ao trânsito cedo, as famílias guardam suas motos dentro de casa ou em seus estabelecimentos.
Apesar da imagem caótica, o fato de existirem poucos sinais faz com que transito acabe fluindo, poupando ao motoqueiro a necessidade da alta velocidade. A média é de 30 km/h, e das bicicletas chegando a uns 10km/h. É cômico, porém comum, ultrapassar as motocicletas com nosso pedalar típico brasileiro.
O vietnamita possui uma cultura pedestre muito diferente, já que a maioria possui uma motocicleta, poucas são as pessoas que andam razoáveis distâncias a pé. No Brasil, um grande percentual da população depende do transporte coletivo, e como um passageiro de ônibus é sempre um pedestre em potencial, estamos mais acostumados a andar a pé. As calçadas de Ho Chi Min são um pouco menores que as nossas, sendo o meio fio feito em formato de rampa para facilitar a subida dos veículos nas calçadas, para que possam estacionar. Muitas calçadas encontram-se ocupadas por carrinhos, barracas e motocicletas estacionadas, o que acaba desviando o fluxo de pedestres para as beiradas. O centro de Ho Chi Min possui ruas mais tranquilas em algumas regiões, com mais sinais de trânsito, pistas exclusivas para carros, e passarelas.

Ciclistas

Os ciclistas aqui são em sua maioria crianças, adolescentes ou idosos. Muitos vendedores de rua a utilizam como meio de carregar suas mercadorias. As bicicletas circulam normalmente pelo trânsito, mas em sua maioria, costumam ocupar uma faixa imaginária na direita, tomando o cuidado para não se misturar ao fluxo das motocicletas, ou não entrar na extremidade direita da pista, já que esta é reservada as motocicletas que vêm pela contra mão. Para que tudo corra bem basta prestar atenção e tomar o cuidado de sempre sinalizar quando se for fazer qualquer troca de pista. Os motociclistas desviarão dos ciclistas sem problemas.
A parte em que tive maior dificuldade em me adaptar foi a travessia das ruas de grande porte. A regra de simplesmente atravessar parece ser menos eficaz, devido ao comprimento da bicicleta. O correto é acompanhar o sentido do trânsito, galgando as pistas até chegar ao outro lado. Às vezes levava 5 minutos para atravessar uma rua.

Atualmente me sinto mais confortável no trânsito, conhecendo boa parte de seus ricos e convenções.

Segurança

Comprei uma corrente grossa e um grande cadeado para amarrar minha bicicleta, apesar dela possuir uma trava interna em forma de anel, que prende a roda traseira, continuo mantendo os mesmos cuidados que possuía no Brasil, apesar de me encontrar em terras mais seguras. Um estacionamento de motos cobra cerca de 10 centavos (1.000 VND) para guardar sua bicicleta por determinado período, o que facilita bastante a situação.

Capacete

O uso do capacete é obrigatório somente para motociclistas, sendo estranho para o ciclista. São em geral capacetes leves, parecidos com o modelo “coco”, imitando o formato de um boné. Existem também muitas cópias de modelos militares, modelos atuais do exército americano, ou do clássico M1. Com tanta variedade o capacete se tornou um artigo de moda. A lei de uso obrigatório data de dezembro de 2007, a partir de então, o uso de apenas 10% subiu para 100%, e as ocorrências de ferimentos graves relacionados ao trânsito caíram para 50% nos hospitais.

Manutenção

Não é difícil de achar lojas de bicicleta ou motocicletas que proporcionem uma rápida manutenção. Mas diferente do Brasil, não se encontram nos postos de gasolina o precioso ar comprimido para encher os pneus. Geralmente pago 20 centavos a qualquer vendedor de ar (homens com compressores na rua) para desempenhar tal tarefa. Por isso comprei uma bomba de ar semana por 6 reais.

Infelizmente paguei muito caro por minha bicicleta, tendo achado dias mais tarde algumas usadas (e um pouco enferrujadas) por apenas 35 reais (voltando dias mais tarde no mesmo estabelecimento minha cara de estrangeiro fez o preço subir para 100 reais). Minha vida se tornou bem mais fácil com a bicicleta.