Vietnam
2019-01-16
Bao Loc é uma pequena cidade de cerca 150 mil habitantes localizada na província de Lan Dong, no centro do Vietnam. Na estrada antes de Bao Loc existe um trecho que cruza uma cerra, as montanhas são cobertas por densa vegetação, uma mata tão densa que chega superar a nossa mata atlântica.
O clima é agradável, sendo o inverno considerado frio para os padrões locais (15c). A economia é baseada nas lavouras de chá e café, o café vietnamita considerado o segundo melhor do mundo, atrás apenas do Brasil. O centro é modesto mas muito agradável, com mercados, e uma área verde com um lago na praça central, e muitos cafés. Bao Loc é famosa por sua cachoeira dam bri, mas particularmente, prefiro me enfiar na mata e subir o rio até chegar a pequena cachoeira que meu amigo me apresentou.
Foi através de meu grande amigo que conheci a cidade, me hospedando na casa de sua família todas as vezes que estive lá. Eles me acolheram como grandes amigos, me chamando de filho (com). Passei bons tempos e boas conversas, me comunicando em escrita chinesa com meu pai, enquanto tomamos cha. A família tem sua casa cercada por pequeno sitio, com sua plantacao de cafe e o galinheiro.
Particularmente viagens a praias paradisíacas nunca me agradaram, prefiro montanhas, morros e grandes planícies de grama. Me agrada a ideia de desbravar matas, subir rios e montanhas. Em minha primeira viagem a Bảo Lộc me chamou atenção uma grande árvore no topo de uma montanha, lembrando um grande bonsai. Deduzindo a distância, a árvore parecia de um porte colossal. Toda vez que visitava a cidade não podia deixar de admirar aquela árvore. Então decidi que iria até lá conhecê-la. Peguei uma bicicleta emprestada, juntei minha faca, uma pequena porção de biscoitos e água e segui em direção ao horizonte.
Andando pelas ruelas, chamei logo a atenção de muitas pessoas por ser estrangeiro, e não tardou um convite a tomar um café, a família inteira veio me ver, mais de 10 pessoas chegaram da rua, chamaram os vizinhos.
Era sempre recebido com hospitalidade e chá.
Uma das muitas pessoas que me acolheram.
As pessoas desconheciam a rota até lá, parando na casa de uma família fui aconselhado desistir. Decidi seguir minha intuição deixando a família para trás. Atravessei fazendas, a rua de terra tornou-se cada vez mais estreita até se dividir em estreitos caminhos. A montanha era coberta de cafezais, o que comprova a existência de uma estrada.
O mais interessante era caminhar entre as fazendas e conversar com os camponeses, que nao estao acostumados a ver um estrangeiro. Conheci um homem que trabalhava em meio ao cafezal, ele vestia uma farda do exército puída. Perguntei se era militar e ele me disse que havia servido por 3 anos.
Parada numa venda, apos uma aventura no mato.
Por fim terminara de cruzar o vale e encontrei o primeiro morro. Entrei em uma fazenda e fui recebido por 2 cachorros. Parei receoso, mas logo vi um homem sem camisa, baixei o meu sombreiro e acenei, sendo correspondido com um sorriso. Após lhe contar a minha intenção, fui encaminhado a sua casa, e estacionei minha bicicleta em sua varanda. Enfim subi o primeiro morro com certa dificuldade, e para o meu espanto havia mais uns 4 morros a serem superados. Cada morro conta com 1 vale. Tentava sempre me manter no alto sem perder potencial. Seguindo caminho encontrei várias cabanas em meio aos cafezais, o que me lembrou da história de meu pai Vietnamita.
Hoàng Kiến Cơ
Nascido em Hoi An na década de 50, em uma família tradicional de Mandarins que haviam servido ao Império por gerações, teve uma educação tradicional, alfabetizado em caracteres chineses, estudou a medicina tradicional chinesa em Hue. Sua aspiração era tornar-se um poeta enquanto seguia a carreira de médico. Durante a guerra seu irmão mais novo, foi aprovado no vestibular de Medicina Ocidental, e tendo retornado para casa no interior, morreu em um acidente trágico: acertou uma bomba com a ponta de uma enxada, enquanto ajudava a família na lavoura.
A líder da família na época, era sua mae, uma bem sucedida comerciante de molho de peixe. Foi morta durante um ataque por um helicóptero americano, seu junko foi confundido com uma embarcação do vietcong, e foi explodida. A partir daí sua família perdeu os principais meios de sustento. Mais tarde servira como enfermeiro, no exército do Vietnam do Sul. Secretamente, doara medicamentos a uma tribo, que por coincidencia apoiava os guerrilheiros comunistas. Ao final da guerra, com a vitória dos comunistas, Hoang foi preso, mas foi libertado após ter sido inocentado graças a sua ajuda a tribo.
Teve uma juventude difícil, teve que largar o sonho de ser escritor para pegar na enxada e sustentar sua família em meio a pobreza em um país devastado pela guerra.
Meu amigo conta que quando era criança, seus pais possuíam um terreno nas montanhas, para o plantio de café. Passavam semanas dormindo em uma choupana sem voltar para casa, deixando os filhos sozinhos. Certa vez seu pai se feriu, voltou para casa com o braço todo ensanguentado, tendo tempo apenas para cuidar do ferimento superficialmente e logo voltou as montanhas. Se ele não montasse guarda na choupana alguém poderia invadir seu terreno para roubar o seu café, cortando todos os ramos, destruindo a chance de uma safra futura e arruinando a família.
Naquele tempo (década de 90) não havia muito o que comer, fora o arroz, às vezes havia apenas um ovo para a família inteira.
O pai sempre incentivou os filhos a estudar, apesar de terem crescido em meio a fome e a pobreza, com a exceção da filha mais velha, todos os filhos frequentaram uma universidade. Meu irmão mais velho possui doutorado em química, minha irmã trabalha como geóloga e mora com seu marido na Malasya, e meu grande amigo e irmão, e uma pessoa eternamente apaixonada pela curiosidade por novos horizontes. Sobre tudo, são uma família de um caráter incrível, que deram uma bela volta por cima. Meu pai é muito respeitado pela comunidade e pelo comitê local do Partido Socialista, por ter prestado serviços como médico às comunidades indígenas.
Após várias subidas e descidas até vales, cheguei até a montanha, e depois de penosa caminhada atingi a árvore. Era um colosso, de cerca de 40 metros. No topo da montanha ainda se viam resquícios da mata virgem. Subindo até lá encontrei um terreno complicado, com muitas raízes e buracos, por fim consegui me equilibrar nas raízes do colosso sem ter que me aventurar pela mata.