Erhu, meu querido instrumento

por

Asia China

2020-07-28

Quando era criança, um som me fascinava, das trilhas sonoras de jogos aos filmes chineses. Nao me lembro precisamente quando foi meu primeiro contato… O tema da sacerdotisa Kikyo no anime Inuyasha, as aberturas dos jogos Romance dos Três Reinos.

Eu me perguntava que instrumento era aquele. Naquele tempo, não havia uma boa internet para se descobrir, tudo era raro.

Mas foi ao ver o Filme Guerreiros do Céu e da Terra (天地英雄 2003) que o mistério finalmente acabou.

Esse cara do meio!

O vilão estava sempre a tocar o instrumento!

Finalmente entendido do que se tratava!

E mais tarde aprendi seu nome: erhu 二胡, que pode ser traduzido como “instrumento de duas cordas do povo hu” ou simplesmente “duas cordas”.

O erhu criado durante a dinastia Tang (618dc – 907dc) pertence a família dos instrumentos húqin 胡琴, de origem nomadesca (dos tais nômades Hu), é um instrumento que pode ser tocado em cima de um cavalo.

O instrumento consiste em uma caixa de som circular, hexagonal ou octogonal na parte inferior com um pescoço preso que se projeta para cima.

A caixa de som geralmente é cobertas com pele de cobra (python). Geralmente têm dois afinadores, um para cada corda. Possui um arco, como uma viola, mas a beleza está na principal diferença: O arco de bambu é bastante flexível, e para se tocar cada corda, pressiona-se de maneira diferente. A outra diferença é que o arco está preso entre as duas cordas.

Até os meus 22 anos nunca havia tocado no instrumento dos meus sonhos.

Na universidade, tentei fazer o meu próprio erhu, com o pouco conhecimento que tinha de marcenaria. Improvisei um haste com seus afinadores, cravada a uma lata de nescau, já que minhas tentativas anteriores com caixas acústicas haviam falhado. Comprei um arco de violino e com o tempo conseguia tirar boas notas e acabei me acostumando. Quando me formei, ganhei de presente de formatura de papai, o meu primeiro erhu! Fiquei maravilhado com os detalhes entalhados na madeira, a pele de cobra e a laca chinesa.

 

Dang nhi, uma injustiça cultural ou uma apropriação histórica?

Quando fui morar no Vietnam, levei comigo meu Erhu, e para minha surpresa, obtive muitas queixas de gente desagradada. O erhu tem naturalmente um som melancólico, apesar de muito poético, mas no Vietnam, ele possui má fama. O seu equivalente, o Dang nhi, é tido como um instrumento de mal presságio. Muitas pessoas se irritaram comigo quando eu tocava em praças, e com o tempo me explicaram que aquele era um instrumento de velórios e que poderia atrair ma sorte para as pessoas que lhe ouviam! Certa vez, num sítio de um amigo, fui aconselhado a não tocar, pois um vizinho estava com câncer, e poderia pensar que sua hora estava chegando.

Um velório no Vietnam é um evento social que pode durar dias. Assim como os tradicionais velórios chineses, faz-se festa como um nobre, enfeita-se a casa e o caixão com muitos adereços e flores. Constrói-se um alter temporário na sala. Bandeiras imperiais adornam a entrada da casa. E geralmente se contrata uma banda, sendo esta aos moldes ocidentais ou ao tradicional vietnamita.
A banda tradicional está munida de instrumentos da tradição da música da corte imperial, é uma pequena reconstituição das músicas da dinastia Nguyen do século XIX. E o instrumento em questão, é uma versão menor, de som mais agudo, acompanhado muitas vezes pelo Dan bao e o Dan Tranh, tamburinhos e tambores.

Nao é musica fúnebre o que eles tocam! As pessoas de antigamente queriam fazer uma grande festa, como nobres e contratavam os músicos da época. Com o tempo, no Sul, estas músicas de origem Nortista, perderam seu espaço, e ficaram reservadas apenas as óperas e funerais. Seria como se nós no ocidente, tivéssemos perdido o hábito de escutar o violino, e o reservássemos apenas aos funerais.
Nao era a toa que os descendentes de chineses, ou pessoas do Norte estivessem entre a maioria de meus apoiadores.
Conheci pessoas interessantes que p tocavam muito bem.

O tema de Era uma vez na China, por um amigo: